25/10 - Nas asas da Pan Air


Como tudo o que eu soube acumular na vida foram rancores e algum dinheiro (mais os primeiros do que o segundo), o banco me deu o cartão de crédito fodão sem anuidade, e lá fui eu ostentar minha superioridade sobre a plebe aguardando o embarque na sala VIP. Casa cheia, me lembrando de como é desigual e jeca este país. Aquele monte de bacana, de sorriso largo, dentes branquinhos, sapato de couro de foca, mas também a ocasional tia perua, com o dedo anular pintado com esmalte de outra cor (mas importado!), dormindo esborrachada no sofá com as pernas apoiadas sobre sua enorme mala Sansonite bem cara, um pouco afastadas demais entre si, e cobertas por uma saia que, assim como meu pênis, cumpriria melhor sua tarefa com uns 5 cm a mais. 
Mas o cardápio, indolente, era rigorosamente o mesmo do ano passado e, assim como em boa parte do aeroporto, o condicionador de ar estava desligado. E futum de bacana não é menos azedinho só porque é de bacana.

E então partimos para 27 horas-bunda, espremidos numa cadeirinha mais apertadinha do que a prexereca da Zarla Cambelli depois da perineoplastia. Com um guia de Tóquio de 500 páginas pra ler durante o voo, porque obviamente o que fiquei fazendo nos três meses que antecederam a viagem foi o que fiz nos três anos ou, daqui a pouco, três décadas antes dela: um monte de músicas intragáveis que ninguém escutou.

Apesar do cardápio  do avião de filmes que até ontem estavam no cinema, e que me arrependo de ter pago para assistir pois poderia agora ter assistido aqui de graça, acabei vendo um da Netflix mesmo. Na verdade, já nem faz diferença... Agora praticamente tudo é fácil e de graça na internet... Vários dos filmes disponíveis no avião já tenho baixados em casa para assistir possivelmente nunca, porque estarei ocupado demais fazendo músicas medonhas para ninguém escutar.


E a transição do jejum intermitente para o mês de alforria foi mais abrupta do que a dos lençóis da Ana Paula Arósio para os da Dilma: desde que entrei ontem na sala VIP, uma lambança alimentar ininterrupta, aceitando todos os chocolatinhos e biscoitinhos que os comissários de bordo de cutículas impecáveis, brinquinho na orelha e contornos de barba feitos a laser ficam atirando em nossas cabeças para poder nos oferecer apenas uma refeição decente em 12 horas de voo. 
A British Airways não serve mais refrigerantes em seus aviões, só suco. E que tipo de mente doentia consegue piorar ainda mais um macarrão com molho de tomate já meio nojentão enchendo-o de lentilhas? Mas a sobremesa redimiu esta quase-lavagem. Algo como um brownie de chocolate com uma calda de caramelo mais doce do que os beijos da já citada e sempre presente Ana Paula Arósio.

Aliás, como tudo é impermanente na vida, até, infelizmente com nauseante relutância, a própria vida: sempre presente até que não está mais. Após anos bravamente e à revelia cumprindo sua nobre função de inspirar o melhor em mim, me fazer sempre querer ser a melhor versão de mim mesmo e assegurar que, se fosse pra valer e não só devaneio a vida seria bela, chegou a hora desta pobre e sofrida moça ser aposentada do cargo de minha musa.
Assim como os carros, as musas envelhecem, vão adquirindo marcas da passagem do tempo, se desgastando e deteriorando, e acabam ficando imprestáveis para o uso. Sou um sujeito bem razoavelmente fiel, exceto com a mulherada. Carros foram só dois, o saudoso e decrépito gurgelzinho que, depois de 30 corajosos anos lá na função, foi roubado em frente de casa, e a bicheira atual. Musas, foram um pouco mais: Bruna Lombardi, Maitê Proença e agora, indo para a aposentadoria compulsória (até a Rosa Weber precisou ir...), A Ana Paula.
Que por anos foi alvo inopinado dos pensamentos mais impuros e das gracinhas sexistas e chauvinistas as mais escrotas que consegui conceber. Só não me processou porque ainda menos gente lê os meus blogs do que escuta minhas músicas, mas nunca se sabe. Coisas publicadas na internet e o vírus da imunodeficiência humana são pra sempre. Caso acabe lendo minhas merdas um dia, querida Ana, saiba que foi tudo fruto da mais genuína admiração carnal! Agradeço pelos serviços prestados, e que venha a próxima! O processo seletivo está em andamento.


Porra, Aderbal, pára de fosforilar, caralho!  Cadê o Japão?!?!? Boa pergunta. Também preciso sair desta voação interminável para escrever sobre minhas desventuras por lá.
Só sei que o jet lag vai ser medonho...

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