28/10 - 東京

Nunca em minha vida me arrependi tanto de não ter ido dar uma sardinha na bunda do Mickey. O dia hoje foi tão cagado, mas tão cagado, que provavelmente teríamos feito melhor ao desistir de tentar conhecer parte da enormidade de lugares que restava conhecer ainda, e nos mandarmos lá pra Disney Tóquio. 
Toda viagem tem aquele dia em que nada funciona, tudo acaba dando errado, quanto mais a gente tenta consertar as coisas mais se atrapalha, e, no final, o resultado acaba sendo pífio, principalmente quando se está do outro lado do mundo e não se terá nova chance de fazer melhor no ano seguinte, como com a sonegação de imposto de renda é possível. E ainda é o terceiro dia de viagem, então, estatisticamente, mais dias como este virão. 
De madrugada, noite mal-dormida por culpa de uma dor de cabeça meio inopinada, que a dipirona tomada na hora não resolveu, e me fez ter que abrir as pernas e recorrer ao anti-inflamatório no dia seguinte. Depois descobrir, como todo ano faço, que no mapa tudo é pertinho, mas no bater de pernas, duas ou quatro horas já se passaram e o destino ainda nem sequer se insinua ainda no horizonte. A necessidade de não perder todo o pouco tempo restante caminhando nos fez optar por começar a  andar de metrô, e então por que não comprar logo o passe de 24 horas? Se o de ontem havia sido tão patético, o de hoje, da companhia oposta, seria o paraíso sobre a terra. Mas não, apesar do que era afirmado no site do produto, este não só não dava acesso às linhas que o de ontem não atendia, mas também às que ontem eram cobertas. Basicamente, 24 horas de trânsito livre em uma única linha, como se isto fizesse algum sentido. À noite uma das colegas da caminhada de ontem, que reencontramos na de hoje, nos mostrou o bilhete que adquiriu no
escritório de turismo, e não negociando com maquininhas na estação ou bilheteiros monolíngues: ele existe, cobre todas as linhas, e é barato.
O mercado municipal? Já com umas 80% das lojas fechadas porque foi ficando tarde, e a gurizada tem o direito de voltar pra casa pra ficar fazendo bet em seus celulares.. O TeamLabs, que parece era a grande e desbundante atração multimídia do continente, com entradas para hoje já esgotadas, e disponíveis só para amanhã à noite. Voltamos então ao Mirakai, museu de tecnologia, honestinho, de preço razoavelzinho, com direito a filminho de planetário  meio mongo para criancinhas. 
A esta altura, a visita guiada aos jardins imperiais das 13:00 já era uma impossibilidade distante, e a própria visita por conta própria miou porque, na falta de um bilhete que entregasse o que prometia, tivemos que andar até lá, açoitados pela fome. Os portões jardins fecham depois das 16:00. Os roncos do estômago, não. 
Então, após termos pago por um passe inútil, pagarmos mais para ir e voltar da caminhada por Shinjuku, com um guia mais esforçado do que a múmia abúlica de ontem, mas de inglês bastante macarrônico, ou, no caso, yakissôbico. Não dei gojeta. Se tivesse sido ótimo, eu também não teria dado, mas ao menos teria choramingado aqui minha culpa.
Finalmente, já às 9 da noite, tendo comido basicamente um docinho japonês, um salgadinho de pacotinho e um café com leite de máquina ao longo de todo o dia, fomos jantar num restantezinho local, com vizinhos de mesa muito barulhentos, gyoza com legumes dentro e um ramen bem padraozão. 
É isso aí, Tóquio. Pessoas na média basicamente prestativas, exceto pelo bilheteiro ocasional, em grande parte pela exasperação com a dificuldade de comunicação. Chama a atenção como mesmo os jovens
bem-apessoados falam pouco inglês, o que se soma ao ano após ano maior enferrujamento do meu. Metade das coisas anotadas não deu tempo de ver, mas a impressão geral é de uma grande Manhattan na qual a Chinatown, como um vitiligo gigante, tivesse se espalhado para 98% da geografia local, com hordas intermináveis, turbas imensas de locais se esbarrando  nos cruzamentos e calçadas dos bairros mais populares, boa parte dele vestidos de personagens de mangá.
E amanhã vai ser domingo, e um horror pra conseguir trocar dinheiro.

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