29/10 - 名古屋


O dia em Tóquio começou com chuva. O suficiente só pra me fazer vestir o escafandro de plástico que comprei para enfrentar a situação este ano, perder um ônibus e ter que caminhar no molhado até uma estação de trem, a partir de onde os veículos foram sofrendo paradas, atrasos e cancelamentos e necessidades de troca de linhas, até conseguirmos chegar à estação central. Tudo anunciado nos alto-falantes em incompreensível japonês pelo maquinista, com possibilidade de tradução e ajuda esforçada mas quase nula dos locais.
Fico aqui pensando que gosto de chamar este tipo de situação de aventura, mas, no fundo, o que muito fiz além de passar uma hora num vai-e-vem aparvalhado, com a mão no queixo, conseguindo me comunicar tanto quanto se fosse um venusiano no Pelourinho, com aquele olhar atoleimado, para, no final, com uma boa dose de sorte, conseguir fazer o que uma criança cega local de três anos faria sem dificuldade, chegar a uma estação de trem? É como o tetraplégico que comemora emocionado ter conseguido,  depois de exaustivos meses de esforço e fisoterapia, coçar sozinho sua sobrancelha esfregando a cabeça na manopla de sua cadeira de rodas.

E na vida turística, quase tanto como na existencial, também tudo pode ficar pior. O passe porcaria 2 não pôde ser devolvido na estação central. Além de ser um "passe" que servia para uma única linha, também só podia ser retornado na parada original onde foi emitido, para resgate do depósito embutido em seu valor. Então, mais 1000 ienes perdidos, e agora sou um orgulhoso proprietário de um caro pedaço de plástico que só serve para separar carreiras de cocaína. Estou pensando em começar a usar, para ao menos justificar sua existência.
Mas agora era hora de fazer boa companhia ao Brad Pitt e tomar o trem-bala...

E o que eu sabia de Nagoya além da música do Steve Reich, Nagoya Marimbas? Que é instrumental, então poderia se chamar qualquer coisa. Mas, no fim o que a gente sabe a respeito de qualquer coisa? Passamos anos nos sacrificando para estar ao lado da pessoa amada, baixamos três semitons a altura de nosso peido só por causa das visitas constantes dela à nossa anatomia, e então, quando finalmente achamos que a conhecemos, encontramos em sua cueca nem, que ao menos fosse, uma mancha de um cocô diferente, mas sim de batom!!! 

Nagoya parece uma Tóquio menorzinha, com distâncias um pouco menores, um pouco menos de gente na rua, estranhamente um pouco mais de coisas escritas em inglês, mas a mesma exuberância de lojas, luzes e coisas pra comprar, e, claro, dezenas de templos, e um ou outro castelo medieval imperial.



E a um deles fomos gastar dinheiro para entrar. Basicamente um grande parque de diversões, sem montanhas-russa, sem roda-gigante,  com jardins e mais jardins em seu lugar, dezenas de lojinhas vendendo o que eles conseguissem, o palácio principal fechado para uma longa reforma, e um palácio secundário, cuidadosamente reconstruído para visitação, com 3000 sala contiguas que bem poderiam ser a mesma.
 E um showzinho de ninjas e samurais muito muito muito bosta pra fazer a gente perder tempo e ficar torrando a cabeça embaixo do sol.

Depois, mais caminhada por zonas comerciais divertidas e mais ramen de cadeia de fast-food, ou fast-noodles, japonesa, pouco raiz mas barato e honesto.


O tênis caro da Adidas que comprei para tentar caminhar bastante sem voltar a sentir aquelas fisgadas na virilha do ano passado é meio pesadão, apertado, e causa bolhas no dedinho. O pior do jet lag já passou, mas persiste um adiantamento de fase de sono. 8 da noite já estou imprestável e moído, capotado na cama, e então acordo espontaneamente às 5 da madrugada, cheio de energia para escrever blog pra ninguém ler e para visitar mais 553 templos.

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