10/11 - 台北

As cafeteiras de hotel sempre me intrigaram. Como aquelas coisas conseguem levar à fervura meio litro de água em trinta segundos? Na boca maior do fogão lá de casa a água do miojo leva 5 minutos para começar a soltar as primeiras bolhinhas, ou mais. Blog do Aderbal também se debruça sobre os mistérios da física!
Ao chegar ao bolorento hotel ontem, os kits da corrida, que aqui só seriam entregues por correio, e não presencialmente, de fato nos aguardavam na recepção. Eu temia que simplesmente não tivessem sido entregues, ou que o hotel os tivesse recusado (nas tratativas por e-mail para pedir que os recebessem, a má-vontade era patente, mas, em carne e osso, os recepcionistas parecem bastante cortezes, então coloquemos a má impressão na conta das sutilezas da linguagem...) e que acabássemos morrendo na praia, depois de pagar uma grana para entrar nela.
Taipei, pela primeira vez na viagem, correspondeu mais à imagem que eu projetava das cidades do oriente. É como uma enorme Avenida São João, com as vielinhas adjascentes também bem semelhantes às de São Paulo. Um dia inteiro batendo perna pela cidade, e a impressão que tenho é a de ter ficado andando pelos arredores da Praça da Sé, só que sem os craqueiros e praticamente sem os moradores de rua. Até o cheiro de esgoto é semelhante. 
Diferentemente daqueles prédios centenários dos centros das cidades européias, Tapei tem aqueles predinhos de umas tantas décadas de vida, insuficientes para parecerem clássicos, mas já com tempo bastante de vida para se mostrarem envelhecidos, decadentes, sujos pela fuligem que bilhões de lambretinhas passando barulhentamente pelas ruas depositam sobre eles. O que São Paulo tem de farmácias ou lojas do McDonald's, Taipei tem de oficininhas mecânicas, é raro o quarteirão que não tenha a sua.
Entre pancadas de uma chuvinha irritante, suficiente apenas para nos fazer tirar as capas de chuva da bolsa, molhar um tanto o seu plástico, parar e nos fazer guardá-las molhadas, até precisar pegá-las de novo dali a pouco, conseguimos visitar, sim, mais um templo, o museu das religiões do mundo, e uma vila de moradores artistas.
No templo, eram vendidos pacotes com miojos, chocolates e biscoitos, industrializados, ainda embalados, para os crédulos preguiçosos ou displicentes demais para cozinhar para seus deuses, ou que acham que as divindades gostam de sucrilhos, poderem fazer suas oferendas. E assim eram largados os pacotes em cima do altar, como haviam sido comprados, provavelmente considerados uma refeição balanceada para os espíritos.
O museu de religiões me desapontou, por pago que era. Museus ou memoriais com este tipo tipo de temática deveriam ser gratuitos. Gente racional e materialista como eu jamais pagaria para ver estas merdas, não fosse esta pobre e desgraçada alma que me acompanha e é empesteada pela minha companhia se jogar no chão, espernear e começar a espumar pela boca exigindo que os visitássemos. Lá dentro, os monitores sempre tão invasivamente solícitos tentavam explicar não sei o que naquele inglês incompreensível, provavelmente achando que, naquele lugar, o bom karma se acumulava com bônus.
A vila de artistas, já à noite e depois de certa quantidade de chuva, tinha todas suas microgalerias fechadas, estava deserta, mas, sendo num morro, e cheia de casebrinhos malcuidados pelos moradores, me pareceu bem semelhante a  uma favelinha turística, só sem os traficantes, os milicianos e os envolvidos no assassinato da Marielle.

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