14/11 - Macau
Tá bom, alguns foram ao show do Roger Waters, e eu não. Outros assistiram a Irma Vap na versão original com o Marco Nanini, e eu não. Centenas e centenas andam na montanha russa do Lanterna verde do parque de diversões lá na Austrália diariamente, mas bem no dia em que eu fui, aquela merda estava fechada pra reparos. Alguns poucos bem-aventurados até adentraram as entranhas da Ana Paula Arósio e, adivinhem, eu não. A vida tem sido cruel comigo. Mas qual a importância de tudo isto? Quantos aí no Brasil tiveram a oportunidade de ter nas mãos e até mesmo usar uma PATACA? Sinto-me vingado por todas as outras coisas raras e bizarras das quais a vida me privou!
Hoje foi dia de visitar mais cassinos, com minhas patacas no bolso (e você, sem...). De passar por aqueles tantos crupiês de olhar triste, sentados atrás de suas bancadas de jogo, pouco frequentadas pela manhã, fazendo aquele gesto meio enfastiado de braço esticado sendo abduzido, com a palma da mão para cima, como que dizendo "senta aí se quiser, eu não me oponho, não poderia estar cagando mais".
Não tomamos café da manhã, já decididos a perpetrar a pequena insanidade de comer no buffet de um dos cassinos, apesar de dolorosamente conscientes de que dinheiro não sai da bunda. Antes, ainda mais um templo no caminho, este com incenso sendo queimado a cada milímetro quadrado de sua superfície, quase me desencadeando uma crise de enxaqueca, e nem quero pensar fazendo o que com os pulmões do pobre bedel, ou monge, que toma conta do lugar.
O buffet, inquestionavelmente, espetacular. Algumas coisas nos custam muito caro, e não nos fazem bem algum, como ter eleito o Jair Messias. Esta valia cada centavo, ou, no caso das patacas, que eu usei e você não, cada avo. Eu é que sou mesquinho mesmo. Então me lancei à missão de me empachar com a mais pantagruélica quantidade possível daquela bela comida. É curiosa esta minha existência feita de tantas pedras de Sísifo. Como esta de passar a vida toda brigando, dia após dia, contra a fome de meu jejum intermitente, para depois, em ocasiões como esta, brigar contra a saciedade e seguir empurrando comida abaixo até ela literalmente começar a socar o cocô das refeições passadas em direção à saída de emergência, como se meus intestinos fossem uma enorme boate Kiss minutos depois de eu ter engolido um punhado de fogos de artifício.
Depois, o resto do dia nauseado de tanto ter comido, passando por vitrines cheias de coisas aparentemente gostosas, mas com aquelas sensação de quase repulsa, meio como quando a gente faz um intensivão de sauna gay desde às 10 da manhã quando ela abre, e depois às 11 da noite, quando já está indo embora, chega aquele mulato musculoso com o peito encaracoladamente peludo e pomo de adão saliente, a gente pensa "mano, isso aí deve estar muito saboroso", mas aí o fuleco dá aquela piscada esfolada e dolorida, e a gente simplesmente respira fundo e volta pra casa, sentado assim meio de ladinho no banco do metrô...
Os cassinos, gigantescos, no caso daqui todos interconectados, sem se saber bem onde um deles acaba e o próximo começa, como se fossem todos metástases uns dos outros, são como as lojas de departamentos de todos os países visitados até agora: grandes prisões voluntárias, você entra, se perde lá dentro, e depois passa duas horas procurando pela porta de saída, que pouquíssimos funcionários têm inglês suficiente para explicar porcamente onde fica. Não senti qualquer antipatia significativa dos orientais por ocidentais, e sim mais uma indiferença. Eles se viram muito bem sem nós, moramos lá bem longe demais e não fazemos qualquer falta. As meses de jogo e instruções são escritas em chinês, os funcionários e crupiês não falam inglês, e se você se sente pouco acolhido, pode ir pra Las Vegas, sem ressentimentos.
Mas tem shuttle grátis dos hotéis para o aeroporto e ferryporto, então deu pra pegar uma caroninha e me sentir todo fodão porque economizei 6 patacas (e você nunca pôs as mãos em nenhuma...), depois de ter gasto 210 pra entupir o pandú no almoço.
De volta ao hotel, de repente, aqui e ali, do nada, minhas narinas eram invadidas por aquele aroma de intestinos sendo cozidos, como se deus tivesse subitamente soltado um peido. Agora, fim da noite, já está batendo uma fominha, mas certa indisposição para comer permanece, ao contrário de minhas amigas baratinhas, que parecem sempre famintas e numerosas no quarto!
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