21/11 - 杭州

Mais momentos de cagaço hoje, para tomar o trem para Hangzhou com um bilhete virtual inexistente, emitido por um site americano, que informava que bastaria apresentar o passaporte para ter a entrada liberada. E se desse merda, como fazer, reclamar com quem, com o zero inglês deles e o nosso também cada vez mais residual? No final, depois de todo o estresse de não perder hora, encontrar a bilheteria naquela estação de trem gigante, perguntar 8 vezes se o trem sairia mesmo da plataforma que estava claramente indicada, e se aquele trem era o trem correto mesmo, e assim por diante, certamente parecendo aos chineses que os brasileiros são insuperavelmente retardados, deu tudo certo e tomamos um trem-bala ainda mais bala do que os shinkansens japoneses. 1230 km em 5 horas.
Hangzhou é uma cidade tão fora do radar para o ocidente que nem nome anglicizado ou aportuguesado tem. O que não a impede ser ser maior do que São Paulo e ter mais gente e mais guardinhas morando aqui do que aí em Tarcisioland. Desta vez nem eu mesmo sei por que a coloquei no roteiro, escolhi meio a esmo uma terceira cidade, pra não ficar só naquele fuck and suck padrão de Pequim e Xangai de quem visita a China. E que bela e inesperada supresa!
Bucareste é uma cidade feia e sem graça, mas Braşov é uma pequena pérola. Amsterdam, Berlin e Londres e Varsóvia não são ruins, mas S-Hertogenbosch, Bonn, Canterbury e Wrocław são pequenos segredinhos que só descobre quem tira a bunda da zona de conforto e se aventura por mares menos navegados, como botar uma moça às pressas pra dentro do carro lá na Waldemar Ferreira, e depois descobrir aquele inesperado algo a mais ali sobrando no meio da paisagem.
Hangzhou é assim. Ainda tem uma presença muito ostensiva de policiais pelas ruas, ainda tem que passar em detector de metal pra entrar no metrô e mostrar passaporte pra tudo, é ainda mais raro encontrar quem fale mais do que duas palavras em inglês, mas tem a moça no metrô que puxou papo e se ofereceu a passar o dia seguinte mostrando a cidade pra gente, se quiséssemos acompanhá-la em seus compromissos. A atendente do banco, com seu inglês péssimo, mas tanta disponibilidade para tentar nos ajudar a trocar dinheiro que, mesmo não tendo conseguido e desperdiçado preciosa meia hora de nosso pouco tempo enquanto procurava localizar sua superiora, não deixa de merecer um raro elogio meu. O vendedor da loja de doces que, tá bom, tava tentando vender o peixe, ou torrone, dele, mas era tão asfixiantemente prestativo em ficar me empurrando degustações que achei que mais um pouco e ia se oferecer para degustar minha paçoquinha.
Inicialmente achei que seriam dois dias meio caçando o que fazer, pelo que li no guia turístico a cidade se limitava a um belo lago e, como sempre, mais um monte de templos. Mas, ainda andando a esmo pra lá e pra cá, à procura de algum lugar pra comprar yuans, tropeçando em nós mesmos, fomos encontrando janelinhas com comida de rua risivelmente barata, mas saborosa, parques bem cuidados, um urbanismo de muito bom gosto, ruas gostosas de passear, mesmo os lugares mais pega-turistas eficazes em seu propósito, porque deu mesmo vontade de entrar, e comprar doces e tranqueiras e até mesmo mistura de flores e frutas pra chá mais caros do que provavelmente mereciam ser.
É o poder do andar sem rumo, ou com rumo mal-planejado, até que a vida inopinadamente te surpreende. Como quando você está lá no bem bom com aquela frentista do posto de gasolina que se entesou por você enquanto calibrava os pneus de seu carro, e dar aquela bombadinha a mais, que ocasiona um espermatozóide sendo expelido lá para dentro do bucho dela, resultando em mais um portador desta não-solicitada maldição chamada vida. Ou quando você está lá na piscina da Associação Cristã de Moços fazendo coisa feia com aquele moreno com uma tatuagem enorme do Hamilton Mourão no bíceps, e ele dá aquela bombada a mais, o que ocasiona um espermatozóide sendo expelido para dentro de seu bucho, resultando em vocė carregar o estigma pelo resto de sua longa existėncia antiretroviral. Mas com Hangzhou a surpresa foi boa!

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