23/11 - 上海

Depois da tenebrosa bicheira de Hong Kong, se hospedar é como tentar caminhar a partir do pólo sul, todos os caminhos levam para cima. Mas anda-se em zigue-zague. Depois dos desbunde do hotel legalzão em Pequim, com café espresso à vontade e buffet de café da manhã quase tão amplo quanto o buffet de jantar pago, o hotel de Hangzhou voltou a ser aquele padrão típico de buraquinho uma estrela em que eu e minha avareza costumamos nos hospedar. Nada errado com ele em si mesmo, mas uma bela broxada na comparação com seu antecessor. Ao menos, o sujeito meio chucro que se passava por recepcionista  aparentemente esqueceu de verificar se o valor já havia sido pago no momento da reserva, não cobrou o que devia, e até onde a fatura do cartão de crédito indica, ficamos hospedados de graça. Agora, estamos novamente em um hotel de cadeia, razoavelmente bom, mas meio derrubadinho, sem café da manhã, e com bate-estacas de duas construções por perto massacrando nossos ouvidos das 7 da manhã às 7 da noite. É mais ou menos como ter saído dos, digamos, braços da Ana Paula Arósio, cair nos da Kia Bicis, e agora se perceber nos da Zarla Cambelli. 
Havia lido que Pequim tinha um problema com poluição, mas é em Xangai que ela se mostra densa, viscosa, acinzentando perceptivelmente o horizonte, dando ao dia de sol um tom laranjento chumbo. Mas respira-se normal, sempre tive a fantasia de que o ar poluído em certo nível fosse respiratoriamente perceptível, como ar rarefeito lá na Bolívia, ou Equador, sei lá.
Xangai parece a menos chinesa das 3 cidades, com ainda assim praticamente zero ocidentais e pouquíssimo inglês falável, mas tem mais daquele clima de consumo ocidental, gente mais sorridente, até alguns dos, ainda inúmeros, policiais. Tiramos a noite para minha assistente de auditório comprar ainda mais um i-phone, porque apenas mais um não bastava, tem que andar com três na mala, e pra tentar comprar um microfone mais fodão pras minhas cantorias, sugestão muito esperta de minha mais conspícua cúmplice de destruição de canções. Mas tá foda encontrar onde. Como me disse o atendente da Apple Store enquanto o oitavo celular estava sendo comprado, depois da covid todo mundo compra tudo online, as lojas estão sendo fechadas. Também continua sendo um suplício encontrar locais para fazer câmbio, num local onde ainda é possível usar mas ninguém mais usa dinheiro, e onde turistas ocidentais não parecem ser uma realidade muito significativa. 

E já que a programação cultural desta viagem tem sido zero até o momento, terminamos bem o dia comprando ingressos tão escorchantemente caros para uma stand-up comedy que, se for genial, ainda assim terá custado muito. Provavelmente será só Ok.

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